19 maio 2015

ser (humano)


O homem deita-se à sombra do medo dos outros
carrega sobre a curvatura das costas a pele cansada do casaco velho
nenhuma palavra sai da boca caída no rosto
apenas a forma negra da solidão envolve o corpo

no caminhar independente dos pés o homem arrasta-se
o chão funde-se aos ossos
e apenas uma sucessão de movimentos liberta a engrenagem ferrugenta

o cheiro humano circula pelas ruas
o homem não toca no ar que o envolve
é um conjunto de retalhos desenhados na pele enrugada

o homem não fala com o homem