04 julho 2016

Depois da morte

Uma esfera transparente cai sobre mim
a leveza extrema da sua beleza cega-me

desejo transformar-me na sua invisibilidade

preciso sentir a multiplicidade de cores que ela recorda

à minha volta circula uma conversa sem palavras
um som que me acaricia e conforta o corpo que perdi

tudo é perfeito e vil
a fome atormenta o espaço onde outrora vivia o meu sangue

na ausência da matéria vejo a densidade do vazio
sinto a revolta da saudade e afugento a tristeza que encobre o brilho daquilo que existe

uma esfera transparente cai sobre as minhas mãos e mata a minha fome
mostra-me como tudo permanece
ensina-me a ser infinita

volto a sentir o pulsar interior do ser
deixo-me invadir por saudações imortais

não existe um final
eu reencontro-me no todo