as lágrimas dançam em queda lenta
ouvem o respirar do teu pensamento
quando te entregavas à força vibrante
das óperas
vejo-te ainda
encostado sobre a pele velha da
poltrona
numa luta constante com as pálpebras
para onde ías
quando te rendias ao passar lento da
luz
através das cortinas amarelas de fumo
oiço-te ainda
a gritar a voracidade canibal do
passado
na firmeza altiva da tua postura
incrédula
nas tuas mãos
a força estoica da existência livre
vivia
abraçada ao medo do desaparecimento
lembro-me dos sorrisos nostálgicos
que te recriavam na lembrança dos teus
voos
eras imortal
as asas pendidas da tua força
continuam a pegar-me ao colo
sinto ainda
a ternura da tua existência
vivo em mim a tua imortalidade
perpectuando nas minhas costas o
renascimento da coragem de voar