Há um monstro que me saúda sempre que
acordo
é belo
e faz-me sentir a morte todos os dias
passeia o corpo quente sobre a minha
fragilidade humana
golpeia elegantemente a pele que em vão
protege os meus orgãos
a luz dourada das suas escamas cega-me
obriga-me a ver sem os meus olhos
sinto o peso insuportável do corpo
desejo a leveza da imortalidade
os meus músculos rasgam-se a cada
movimento
cientes da força apocalíptica da
existência
há um monstro que vive em mim
tenta matar-me todos os dias
quero abocanhar a sua imensidão
regurgitá-lo
e ressurgir
livre da sedução avassaladora do medo