20 setembro 2018

primeiro passo


Caminhava com os olhos presos às pestanas. Gritava ao sol para não entrar. Dentro do corpo o coração esquecia-se do ritmo em que outrora dançava. A cada passo a raiva seduzia o espírito cansado.
Com os dentes a esmagar o maxilar, agarrou nas próprias mãos, amachucou-as, e coloco-as dentro dos bolsos. Prosseguiu a caminhada no esquecimento do tacto. Antes de chegar ao destino os pés deixaram de andar, um calor imprevisível estalou a pele, despiu-se, reencontrou as mãos, colocou-as no chão, abriu os olhos ao fazer o pino, sentiu a luz aquecer o coração que retomava a sua dança, ao soltar os dentes sorriu, e retomou o caminho, imersa na visão deslumbrante de um mundo visto ao contrário.