Caminhava com os olhos presos às
pestanas. Gritava ao sol para não entrar. Dentro do corpo o coração
esquecia-se do ritmo em que outrora dançava. A cada passo a raiva
seduzia o espírito cansado.
Com os dentes a esmagar o maxilar,
agarrou nas próprias mãos, amachucou-as, e coloco-as dentro dos
bolsos. Prosseguiu a caminhada no esquecimento do tacto. Antes de
chegar ao destino os pés deixaram de andar, um calor imprevisível
estalou a pele, despiu-se, reencontrou as mãos, colocou-as no chão,
abriu os olhos ao fazer o pino, sentiu a luz aquecer o coração que
retomava a sua dança, ao soltar os dentes sorriu, e retomou o
caminho, imersa na visão deslumbrante de um mundo visto ao
contrário.